Agência FAPESP* – Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) descreveram em artigo publicado no Journal of Infectious Diseases uma estratégia capaz de potencializar o tratamento da tuberculose, doença causada pelo microrganismo Mycobacterium tuberculosis.
O método consiste em eliminar com anticorpos específicos um tipo de célula de defesa imatura presente no pulmão de pacientes com a forma grave da doença. A descoberta é fruto do doutorado de Caio César Barbosa Bomfim, realizado com apoio da FAPESP e orientação da professora Maria Regina D’Império Lima. A pesquisa está vinculada a um Projeto Temático.
As células imaturas abordadas no estudo são as chamadas “células mieloides supressoras”, produzidas na medula óssea. Em indivíduos saudáveis, elas se desenvolvem até se transformarem em leucócitos maduros, um tipo de glóbulo branco, e são liberadas na corrente sanguínea. Em determinadas condições, como câncer, doenças autoimunes ou infecciosas, tais células são recrutadas para a corrente sanguínea precocemente e vão para o tecido afetado na tentativa de auxiliar o sistema imune do indivíduo doente, minimizando os danos causados pela inflamação excessiva e promovendo o reparo dos tecidos.
Mas, no caso da tuberculose grave, em vez de ajudar, as células mieloides supressoras acabam atrapalhando o sistema imune. “Por serem imaturas, essas células ainda não possuem os mecanismos necessários para eliminar a bactéria e, além disso, apresentam um efeito imunossupressor. Além disso, nós mostramos que elas agravam a tuberculose principalmente por atuarem como nicho, um local onde as bactérias podem se desenvolver com maior facilidade”, explicou Bomfim à Assessoria de Comunicação do ICB-USP.
No pulmão, as células imaturas são facilmente invadidas pelas micobactérias, contribuindo para a sua proliferação e a piora da infecção.
A estratégia adotada pelos pesquisadores foi administrar em animais um anticorpo específico para combater as células mieloides na fase tardia da doença. Os camundongos submetidos ao tratamento apresentaram melhora em comparação com o grupo-controle não tratado.
“A eliminação dessas células reduziu a gravidade da doença, diminuindo a quantidade de micobactérias e a inflamação no pulmão e aumentou a sobrevida desses animais. Além disso, nos animais tratados, as bactérias não se disseminavam para todo o órgão, como aconteceu no grupo-controle”, relatou o autor do estudo.
Caso futuramente seja comprovada a eficácia da eliminação dessas células em testes clínicos, o tratamento poderá ser utilizado como terapia adjuvante, potencializando o efeito dos antibióticos. Nas próximas etapas do estudo, o grupo irá testar o anticorpo junto com antibióticos e verificará se o tratamento pode realmente diminuir a chance de reaparecimento da doença.
O estudo Harmful Effects of Granulocytic Myeloid-Derived Suppressor Cells on Tuberculosis Caused by Hypervirulent Mycobacteria pode ser lido em https://academic.oup.com/jid/article-abstract/223/3/494/5989003?redirectedFrom=fulltext.
Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.
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